quinta-feira, 28 de setembro de 2000

A seleção não jogou mal; ela é ruim



Então, se entendi bem, os jogadores da seleção de futebol foram mal escolhidos. Ou, se foram escolhidos direito, renderam muito menos do que era normal esperar. Também foram e seguem sendo paparicados, com hotéis de luxo e salários muito altos. Ou, então, o astral negativo do técnico influenciou todo mundo.

A saída precoce foi uma vergonha, um vexame, uma humilhação. Essas palavras apareceram ontem na imprensa. São expressões estranhas em Sydney, onde a imprensa e a torcida reconhecem e elogiam seus atletas derrotados.

Não somos menos generosos do que os australianos. É que parecemos não ter a menor dúvida de que, no futebol, o Brasil é o melhor. Portanto, perdendo, os jogadores nos humilham, desmentem nossa essência. Além disso, como só podem ser os melhores de todos, se perdem, é por safadeza.

Luxemburgo declarou: "Tivemos todas as chances do mundo para chegar à semifinal, mas jogamos mal". É uma frase engraçada, pois cada time tinha (e alguns ainda têm) todas as chances de chegar até a medalha de ouro.

Ele quis dizer que o Brasil era time forte para chegar à semifinal sem problemas, mas jogou mal.

Jogar mal é sempre apresentado como um acidente. Somos os melhores, mas às vezes (muitas vezes, ultimamente) jogamos mal.

Vi tenistas, depois de errar um golpe, olhar para a raquete procurando algum desajuste das cordas que explicasse o erro. Pois bem, a seleção joga mal, e todos -jogadores, técnicos, torcedores- olhamos para as chuteiras. Será que quebrou uma trava?

Pergunto: quantas vezes a seleção vai ter que jogar mal para que a gente comece a reconhecer que ela é ruim mesmo? E, mais difícil ainda, para que aceitemos a idéia de que a ruindade talvez não seja o resultado de escolhas erradas, mas o reflexo de um futebol que não é mais o rei dos gramados?

Decidimos que o futebol é um gene brasileiro. Até que essa crença mude, vai ser difícil melhorar.

Às vezes, famílias brasileiras com filhos adolescentes emigram para os EUA. Os filhos, que jogaram dez várzeas na vida, descem do avião com a idéia de que vão arrebentar na bola. Chegam em sua nova escola anunciando que são brasileiros como se fosse a mesma coisa do que campeão mundial júnior. Se não forem selecionados na hora para o time, o técnico é burro e americano não entende nada de futebol. Em geral, esses jovens passam para outro esporte, o que não constitui uma perda para o futebol nacional ou americano. Moral da história: para melhorar, é bom reconhecer que a gente é ruim.

Que tal comprar alguns jogadores africanos, para ver se anima o futebol nacional?

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