Acabou há pouco o jogo contra o Japão. A seleção permanece na Olimpíada. Mas a campanha continua sofrida.
Anteontem, a seleção feminina de futebol ganhou da Austrália, mas no sufoco: 2 a 1 de virada e com um gol australiano anulado (por milagre).
Mesmo assim, na saída do estádio, um torcedor brasileiro enrolado numa enorme bandeira interrompe a conversa com um grupo de australianos, exclamando: "Vocês ainda têm tudo o que aprender sobre futebol!". Subentendido: aprender com a gente.
Antes, na arquibancada, dois australianos param um brasileiro de camiseta da seleção. Perguntam: "Brazil?". O torcedor confirma e logo convida seus interlocutores a contar as quatro estrelinhas azuis, "quatro vezes campeão do mundo", ele explica. Em suma, esse esporte é nosso.
Por isso mesmo, estou achando que, para nossas seleções de futebol, masculina e feminina, vai ser cada vez mais difícil jogar bem e ganhar.
Isso independentemente dos técnicos e da qualidade dos jogadores. Por quê?
Existe um nível de expectativa que é nocivo para os atletas. E é bem possível que, em matéria de futebol, a gente já o tenha atingido. Um exemplo. Todos os atletas australianos estão sob pressão: os olhos do mundo estão virados para cá, e o país pede medalhas. Mas, acima de tudo, sonhava-se com a abertura da Olimpíada.
A primeira prova era o triatlo feminino -um evento-espetáculo bem no meio do cartão postal de Sydney.
Esperava-se uma apoteose logo no início. Havia de fato uma chance de que as australianas ganhassem as três medalhas. Para isso se preparavam. Isso estava sendo antecipado. Ora, Loretta Harrop, favorita, chegou em quinto lugar.
Michelle Jones perdeu o ouro logo no sprint e ficou com a única medalha australiana.
Eis uma das dificuldades cruciais em psicologia do esporte. Por um lado, o atleta precisa de um alto nível de motivação (aqui as expectativas do público e, no caso, do país ajudam). Por outro, como já Freud tinha reparado, o excesso de investimento pode produzir uma inibição irresistível. Nada de muito patológico nisso. Reagimos todos assim: quando queremos alguma coisa em demasia, na nossa cabeça, ela se confunde com todas as coisas que quisemos muito e que nos foram proibidas.
Em consequência, fracassamos.
Ora, em matéria de futebol, parece que ganhar se tornou uma condição "sine qua non" da identidade nacional brasileira. Perder é crime de alta traição.
Com isso, vai ficar difícil jogar -não só nesta Olimpíada.
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