sexta-feira, 26 de janeiro de 2001

A MISÉRIA DO CAPITAL 2

Um cheirinho de naftalina

CONTARDO CALLIGARIS
EM PORTO ALEGRE

N uma entrevista coletiva para a imprensa, Bernard Cassen, diretor de "Le Monde Diplomatique", disse que o Fórum de Porto Alegre não é contra aquele de Davos; ao contrário, Davos está contra Porto Alegre. Pois, como ele explicou, na Suíça, os poucos tramam contra os muitos. Acrescentou que, em Davos, só há indivíduos falando por conta própria e, portanto, defendendo interesses pessoais. Em Porto Alegre, há representantes de organizações, "pessoas que representam mais do que a si mesmas". Em suma, os muitos têm mais razão do que os poucos, e é melhor não falar em seu próprio nome.

Em assembléias de 30 anos atrás, esses chavões retóricos rendiam aplausos certos. Eu achava que, com a acumulação dolorosa das experiências, a esquerda tivesse desistido de negar suas melhores origens iluministas e individualistas.

No programa de Porto Alegre, o número de organizações e grupos norte-americanos mal passa de dez. Claro, os "baderneiros" de Seattle, com suas tendências anárquicas, odiariam ouvir que falar em seu próprio nome é menos legal do que representar grupos. Ou que os muitos são sempre melhores do que os poucos.

No futuro, seria interessante que a revolta contra o mundo neoliberal não fosse toda traduzida ideologicamente pelo mesmo academismo político francês. Isso acaba excluindo grupos e indivíduos (mas os indivíduos não importam, não é?), que não combinam com o cheiro da naftalina.

Triste confirmação de última hora: na cerimônia de abertura houve vaias para a pequena delegação dos Estados Unidos e aplausos para a Coréia do Norte (uma delegação oficial?).

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