A educação dos gostos pode parir inquietante uniformidade; é o que acontece com o vinho |
DUAS SEMANAS atrás, enquanto saboreávamos uma garrafa de Pomerol, um amigo me contou que, durante uma viagem recente, seus anfitriões chineses tinham insistido para que ele experimentasse um vinho da parte da Mongólia que é região autônoma da China. Meu amigo se preparou para o pior, mas, surpresa, o vinho da Mongólia era um cabernet muito parecido com um bom Bordeaux.
Melhor para meu amigo. Mas duvido que a terra da Mongólia seja igual à das colinas bordelesas. Tampouco o cultivo da vinha cabernet é uma tradição mongol.
Em compensação, numa pesquisa na internet, encontrei ao menos um viticultor da Mongólia que declara envelhecer seu vinho, durante dois anos, em barris de carvalho importados da França. Esse processo confere ao vinho gosto e buquê específicos, que, nos últimos 20 anos, tornaram-se uma espécie de padrão do vinho da região de Bordeaux. Resultado: o vinho da Mongólia está pronto para satisfazer a maioria dos consumidores americanos, europeus etc., mas nunca saberemos o que teria sido um vinho da Mongólia, se ele tivesse existido. Os viticultores da Mongólia perderam a chance de inventar uma cultura do vinho que lhes seja própria, e nós, a de apreciar um gosto novo, diferente. O mundo perdeu um pouco de sua diversidade possível.
"In vino veritas" significa que o vinho solta a língua: quem bebe revela verdades. Lendo "Gosto e Poder", de Jonathan Nossiter (Companhia das Letras; Nossiter é o diretor do filme "Mondovino", de 2004), a expressão ganha outro sentido: a evolução do vinho, nas últimas três décadas, mundo afora, diz verdades incômodas sobre os perigos da globalização, ou seja, sobre um processo que transforma não só os produtos dos quais fruímos mas também o nosso gosto.
Em 1899, Thorstein Veblen previa que, "no futuro", o consumo ostensivo de artigos de luxo não seria suficiente para confirmar o privilégio de classe. O consumidor, ele pensava, deverá se tornar um entendedor, capaz de ostentar seu saber sobre os objetos que ele consome (Veblen listava: roupa, arquitetura, drogas e, é claro, bebida).
A necessidade de cultivar a faculdade estética e de conversar sobre o gosto levará os mais ricos a abandonar a vida ociosa para se instruir um pouco -o suficiente para justificar as escolhas e as preferências.
Essa transformação prevista por Veblen tem um lado simpático: afinal, mesmo quem não dispuser dos meios para adquirir e usufruir terá acesso ao saber sobre o que seria bom consumir, e esse saber "enobrecerá" o consumidor, promovendo-o socialmente pela educação dos gostos. Problema: a "educação dos gostos" é capaz de parir uma inquietante uniformidade do gosto. A história recente do vinho, mostra Nossiter, é um exemplo disso. Três tempos:
1) O consumidor "futuro" de Veblen pode aprender tudo sobre "domaines" e safras, mas esse esforço não o dispensa de justificar suas escolhas pelo próprio prazer que seu vinho preferido lhe proporciona. Aqui, ele encontra duas dificuldades. Como descrever e transmitir esse prazer? E como se certificar de que sua preferência não seja singular e arbitrária?
2) Imaginemos que, nesta hora, surja alguém (Robert Parker?) que invente uma linguagem para descrever as qualidades gustativas e olfativas do vinho. Se for uma linguagem barroca e um tanto tola, melhor ainda: seu uso meio hermético confortará o consumidor com a impressão de pertencer a uma "confraria".
E imaginemos que o mesmo Parker proponha seu próprio gosto como critério universal de classificação de todos os vinhos.
Eis que o consumidor "futuro" dispõe das palavras que ele procurava e de um sistema classificatório que, se ele o aceitar, tornará seu gosto menos questionável e "arbitrário". Claro, são as palavras e o gosto de um outro, mas nada é perfeito, não é?
3) Imaginemos agora que um enólogo amigo de Parker (Michel Rolland?) descubra e comercialize a receita para transformar os vinhos de quase qualquer território (por que não da Mongólia?) de modo que correspondam ao gosto de Parker, que se tornou o gosto de quase todos. Em suma, a dita educação dos gostos produziu o triunfo de um gosto só (e, é claro, um excelente negócio).
A todos, boa leitura e boa meditação sobre o futuro de nosso gosto globalizado. Só uma coisa: nem tudo é ruim na globalização. Por exemplo, sou a favor da aparição de queijos "tipo" taleggio, camembert etc. no meio da cultura autóctone do queijo de minas e do queijo prato. E talvez, sem os barris franceses, o vinho da Mongólia seja intragável. Mas essa é outra história.
Muito bom post!
ResponderExcluirParece que esse é um caminho sem volta, já está pavimentado, iluminado e, principalmente, tarifado.
Globalização implica pasteurização, os mais fortes dominando os mais fracos. No melhor dos mundos teríamos americanos e europeus tomando tanto "mineirinho" quanto nós tomamos coca-cola. Mas o mundo está longe da perfeição.
O que está posto,a título de globalização, é a expansão do império consumista, com seu rolo-compressor que esmaga tudo que está à sua frente e deixa atrás de si um rastro uniforme e artificial.
A nós cabe a escolha: Coca normal, light ou zero? Big Mac ou Quarteirão com Queijo? Britney ou Rihanna?
Ou não.
Olá!
ResponderExcluirpassei por aqui!!!
=D
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Uma boa semaninha para vc, meu amigo(a)!!!
Que sua presença,
seja sempre um sopro de ar puro
para o ambiente em que estiver.
Que sua pessoa seja digna de confiança,
mas com um toque de criatividade.
Disponível, mas sem esquecer-se de si.
Incansável pelo ideal,
mas satisfeita com a vida.
Ligada aos amigos,
mas capaz de pensar distante.
Não conte os anos que já viveu,
mas ame a vida simplesmente.
Ocupe-se intensamente no que faz,
sem pensar no que poderia ter feito.
E se um dia já não puder seguir
fisicamente o ritmo habitual,
descubra mil outras coisas para fazer,
outros mundos para explorar
e pessoas para amar, mantendo a paz e o entusiasmo no espírito.
Assim, muitos buscarão a sua amizade,
pela sua alegria contagiante,
pela sua inspiração que sugere,
e, sobretudo pelo exemplo que proporciona
de uma vida plenamente realizada.
(autor desconhecido)
COM CARINHO...Bjoooo
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