segunda-feira, 2 de outubro de 2000

Encerramento

De fato, as medalhas de ouro são de prata coberta de folhas de ouro -seis gramas por medalha.

O Brasil estava antevendo cinco medalhas de ouro. Assim, perdemos 30 gramas de metal precioso. Não vamos fazer drama. Há de se convir que não é muito -sobretudo comparando com o ouro que, nos séculos passados, deixou o Brasil a destino da Europa.

Brincadeira à parte, não sei mesmo se é para reagir ao pouco sucesso nesta Olimpíada. Há a tentação de esquecer e pensar em outras coisas, que inelutavelmente parecerão mais sérias. Nesse caso, adotaremos a seguinte versão: os brasileiros melhoraram suas colocações em uma série de especialidades (isso é verdade). Apenas faltou um pouco de sorte.

Mas talvez essa seja uma boa ocasião para inventar uma política de cuidados com o esporte de competição, para que as alegrias oferecidas pelas vitórias futuras ajudem a criar e valorizar a imagem de uma comunidade de destino. Impor respeito geralmente ajuda a se respeitar a si mesmo.

Em Montreal-1976, a Austrália teve uma de suas piores atuações: nenhum ouro, uma prata e quatro bronzes. Em 24 anos -três gerações de atletas- subiu ao quarto lugar na classificação das nações (atrás de EUA, Rússia e China).

Como isso aconteceu? Imediatamente depois de Montreal, foi fundado o Instituto Australiano do Esporte (AIS), com o intento de reunir em Canberra todos os melhores atletas australianos, oferecendo-lhes a possibilidade de viver e treinar juntos e de viajar seguidamente para fora do país, confrontando-se com adversários internacionais. O Instituto se associou às diferentes federações, criando um programa de identificação de talentos, pelo qual são reconhecidos precocemente os fenótipos de possíveis atletas. É só uma indicação.

Hora de concluir. A cerimônia de encerramento foi melhor do que a de abertura -cheia de humor e ironia. Mas senti um mal-estar quando moças vestidas de Grécia antiga, caminhando hieraticamente em câmera lenta para sugerir valores sagrados, vieram passar a bandeira olímpica para o prefeito de Atenas. A música de fundo era tão óbvia quanto a tentativa de criar alguma significação elevada para o evento.

Tudo bem, o ideal olímpico é bonito etc. Mas a semântica de elevador sempre cheira a manipulação. Se as Coréias estiverem unidas em 2004, quando a juventude do mundo competirá em Atenas, não será por ter desfilado juntas em Sydney. O desfile terá sido a ocasião de expressar um anseio. Só isso. E já é bastante.

Os bons sentimentos, quando encenados ostensivamente, ficam melequentos e dão vontade de voltar logo para o mundo real.

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